Acabaram com a escola de samba

Postado por Lucas Schultheiss Monteiro On 12:57

Uma escola de samba não é o desfile que é visto na avenida, não é um ensaio lotado de pessoas bonitas vindo de bairros nobres, não é uma quadra espaçosa, não são as alas coreografadas, muito menos as esculturas articuladas dos carros alegóricos.

Uma escola de samba é a união de uma comunidade em prol de entretenimento e lazer, mas também que quer trabalhar e para se descontrair dos problemas do dia a dia se reúne com os amigos numa roda de samba com baianas e velha-guarda. São pessoas que passam dias e noites a fio cortando, colando e costurando fantasias. O desfile de carnaval é apenas uma das atividades realizadas por uma agremiação.

Em tempos de mudança no que se entende como escola de samba, a única coisa que continua igual é a bateria, por mais que hajam novas bossas e novos ritmos. A batida da bateria não é influenciada pelo número de penas de faisão de um destaque, ou pela quantidade de cristais swarovski de uma rainha. Essa centena de homens e mulheres são responsáveis pelo ritmo que dita o molejo do corpo no passo curto, no faz que vai, mas não vai, cheio de ginga, no balançar dos braços.

Uma escola de samba não acontece da noite para o dia. É preciso criar vínculos. É preciso se fazer importante na vida de cada componente. É preciso ter componentes que demonstrem garra e amor pelo seu pavilhão.

Quando a CHEGOU O QUE FALTAVA anunciou que não desfilaria, fiquei muito chateado. Não só por gostar da escola, mas por saber que acabaram com uma das escolas de samba mais tradicionais do Estado. E quando digo acabaram é porque deixaram que o ego de membros da diretoria se tornasse maior do que a bandeira da agremiação.

No carnaval o que deve prevalecer é a escola de samba e não quem está a frente dela. Seus presidentes, diretores, compositores, carnavalescos... tudo isso é passageiro. A escola não, ela vai seguir por gerações e gerações sempre se renovando.

A “Chegou” não tinha comunidade. Não tinha bateria. Não tinha as velhas baianas para passar ensinamentos a molecada nova, ou seja, não era uma escola de samba. Era apenas uma produtora falida de desfiles de carnaval.

Em seus últimos anos, a escola só entrava em ação nos últimos meses antes dos desfiles e no sambódromo se apresentou como um aglomerado de pessoas cujas fantasias eram distribuídas minutos antes do sinal verde, com alegorias decoradas na concentração e integrantes da bateria vindos de outras agremiações, que raramente ensaiavam mais de duas vezes antes do desfile.

Tenho muito respeito pelos verdadeiros integrantes desta escola, que já formou grandes nomes do nosso carnaval e que figurava sempre entre as primeiras colocadas. Mas, tenho ainda mais respeito pelo pavilhão azul, branco e rosa guiados por um mestre-sala e uma porta-bandeira vindos da Grande Goiabeiras.

O desabafo que fiz aqui, nada mais é do que a tristeza de um folião, que vê mais uma grande escola capixaba entrar em decadência. Salve sua escola de samba, não deixe que ela se torne uma produtora de desfiles. Ajude no barracão, freqüente os ensaios, aprenda a letra do samba e mostre todo o seu amor na avenida. Apenas uma agremiação poderá ser campeã, mas você, por 65 minutos, pode ser o folião mais feliz do mundo.

Enquanto isso... aguardamos a Chegou o que Faltava voltar a ser escola de samba. E viva o samba!